Redescoberta da «unidade de vizinhança»
A redescoberta da «unidade de vizinhança» idealizada, há quase cem anos, pelo sociólogo norte-americano Clarence Arthur Perry foi o ponto alto da sessão online dinamizada no dia 17 de março, no âmbito do processo de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM).
O modelo de Perry tinha como visão construir um modelo de cidade baseado num conjunto de unidades de vizinhança articuladas entre si e ligadas pelas unidades comerciais, criando um conjunto de pequenos centros funcionais, tendo, mais tarde, inspirado a construção de muitas cidades europeias no pós-guerra.
Mais recentemente, está a ser recuperado como estratégia de planeamento urbano através do conceito da «ville du quart d'heure» que Anne Hidalgo e Carlos Moreno estão a promover em Paris.
O «espírito de vizinhança» e algumas dimensões do modelo descrito por Perry estiveram bem presentes nesta conversa virtual com os afuradenses. O sentido de entreajuda dos moradores, a solidariedade nos momentos difíceis, a vida comunitária na rua, a porta aberta de casa para quem precisa, os espaços coletivos da vida social - a escola, o mercado, os armazéns de aprestos, o lavadouro público, o estendal comunitário de roupa e a escala humana do lugar, tudo surgiu na conversa ao redor da mesa digital.
Ao longo da sessão, partilharam-se, também, os momentos difíceis de há cinquenta anos atrás, tempos em que «nem sempre havia que comer, sobretudo na época do defeso». A solidariedade surgia naturalmente «entre os que tinham um bocadinho mais e os que nada tinham». Os mais generosos emprestavam «o pouco ouro que possuíam para que as mulheres dos pescadores fossem ao Porto colocar no prego até que a “safra” regressasse, houvesse algum dinheiro e se resgatassem os bens». Regressámos com mil cuidados ao cais da Afurada, seguindo o som da «ronca». Tínhamos à nossa espera «as mulheres com seus xailes pretos pelas costas e os seus aventais».
Abençoados pelo São Pedro, todos celebraram noite fora a magia desta comunidade.
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