Batistério paleocristão descoberto no Castelo de Gaia

O acompanhamento arqueológico dos trabalhos de requalificação, renovação de estruturas e instalação de elevações mecânicas levados a cabo pelo Município em diversos arruamentos do lugar do Castelo, em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, levaram à descoberta das ruínas de um batistério paleocristão, datável talvez da segunda metade do século VI.

A surpreendente construção, ainda em fase de escavação, revela uma planta simétrica composta, aparentemente, por quatro lóbulos absidais, rodeando uma área quadrangular onde poderá ter estado instalado um recipiente móvel, de que se vêm ainda os encaixes.

Existem em Portugal diversos batistérios desta época, quase todos na parte sul do país, com destaque para os dois encontrados em Idanha-a-Velha e os dois conservados em Mértola, sendo o da basílica de Conimbriga, até agora, aquele situado mais a norte.

Todas estas estruturas são constituídas por uma pequena piscina, de dimensões variáveis, que servia para a imersão do catecúmeno, uma vez que o rito mais comum era o batismo de adultos. Situavam-se quase sempre no exterior dos templos ou em área lateral destes, pois só a partir do batismo o neófito era plenamente admitido à eucaristia e aos outros ritos da Igreja.

As pequenas dimensões do batistério de Gaia sugerem que pode corresponder à mudança do rito batismal de imersão para o de aspersão ou, mesmo, para o batismo de crianças. Talvez este batistério possa relacionar-se com o edifício da mesma época escavado nos finais do século passado no interior da igreja do Bom Jesus de Gaia, templo que dista poucos metros do achado.

Não sendo possível compatibilizar este importante achado arqueológico – que vem somar-se a outros recentemente efetuados no Castelo de Gaia – com o elevador em construção no local, estuda-se agora a possibilidade do seu levantamento para remontagem em sítio próximo.

Os trabalhos estão a ser conduzidos pela empresa Empatia - Arqueologia, Conservação e Restauro, Lda.

António Manuel S. P. Silva (GHAP – AECR/CQ)