Câmara e Gaiurb assinalaram semana europeia com lançamento de livro, debate e passeio de bicicleta
Nada melhor do que um saudável e descontraído passeio de bicicleta entre a Douro Marina e o Senhor da Pedra para fechar com chave de ouro a Semana Europeia da Mobilidade em Vila Nova de Gaia. O Município e a Gaiurb assinalaram a efeméride com um conjunto de iniciativas que priorizaram a reflexão e o debate sobre os compromissos das cidades com a crescente complexidade e diversidade urbana.
O redesenho urbano através da implementação de novas ruas ou da adaptação das vias existentes aos novos desafios das cidades, constituiu o enfoque da apresentação que o urbanista Daniel Casas Valle fez do seu livro “The Future Design of Streets”, escrito em co-autoria com Catarina Breia Dias e Ivo Oliveira, cujo lançamento decorreu no dia 21 de setembro, no Convento Corpus Christi.
“The Future Design of Streets” define as ruas como espaços importantes nas áreas urbanas, no sentido de trabalhar os fluxos de mobilidade, os espaços ecológicos e de proximidades transitáveis, pelo que Daniel Casas Valle evidenciou a necessidade de adoção de um olhar crítico de como se pode projetar as ruas do futuro, apontando o papel principal das futuras ruas de Vila Nova de Gaia.
O debate «Combina e move-te em Gaia» sucedeu ao lançamento do livro, uma cerimónia que contou com a presença dos administradores da Gaiurb, António Castro e André Correia, e permitiu a apresentação de algumas das iniciativas municipais em curso, assim como as possibilidades de ação num futuro próximo.
Na ocasião, António Castro defendeu a necessidade de “refletir para além do bem e do mal” e considerou absolutamente imperioso “agir, promover a mudança e planear o futuro das pessoas”.
Durante o debate foram apresentadas ações de promoção da mobilidade, no âmbito da requalificação do espaço público do Centro Histórico de Gaia, Walkingaia - programa de comunicação visual urbana do Centro Histórico de Gaia, Meu Bairro, Minha Rua - Zonas Kiss & Go em Vila Nova de Gaia, distribuição modal para as novas vias no âmbito da revisão do PDM e, ainda, os planos de mobilidade e inserção dos modos suaves, no âmbito das “Cidades e vilas que caminham”.
A apresentação do projeto de requalificação do espaço público do Centro Histórico de Gaia incidiu sobre a estratégia de intervenção adotada neste território singular, assente na identificação dos principais problemas de mobilidade suave e no desenvolvimento de soluções integradas que respondam às dificuldades concretas de quem se desloca neste território.
“Temos ao nosso alcance um conjunto de soluções que visam incrementar a mobilidade nas nossas cidades, mas quando intervimos num território consolidado, numa malha histórica que integra a zona de proteção a uma área classificada como Património Mundial, e detentora de valor patrimonial intrínseco próprio, deparamo-nos com um conjunto de constrangimento que limitam e condicionam a nossa atuação”, salientou Rita Amaral, responsável por este projeto desenvolvido pela Gaiurb. Assim, segundo acrescentou, a resposta reside na intervenção pontual, no detalhe, pelo que o projeto baseia-se numa reinterpretação das soluções tradicionais, procurando adaptar os espaços às exigências atuais, sem com isso desvirtuar o existente.
Igualmente debruçado sobre o centro histórico de Gaia, o Walkingaia é um projeto de orientação visual que promove a singularidade deste território e da sua população, evidenciando o património imaterial intrínseco, o valor identitário dos lugares, destacando a materialidade desaparecida ou escondida num território repleto de narrativas e lendas longínquas no tempo, complementando o imaginário mundialmente conhecido do Vinho do Porto, segundo referiu Sofia Rato, co-autora deste programa de comunicação visual urbana do Centro Histórico de Gaia.
O Walkingaia traduz uma abordagem de “cariz contemplativo, através de um conjunto de intervenções visuais alusivas a movimentos, imagens, antigas dinâmicas e construções desaparecidas, assentes no conceito de deambulação e serendipidade”, acrescentou a oradora, concluindo que a representatividade das intervenções refletidas pelo território permite a interpretação singular através de um conjunto de indicações, marcos visuais e pistas sobre uma geografia concreta: o edificado, a sua história e identidade, sempre com paralelismo visual da margem do Porto, valorizando pontos de observação e miradouros, incluindo informação, reflexões de autores locais e nacionais, provocando a vontade de percorrer o território.
A distribuição modal para as novas vias, no âmbito da proposta de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), foi outro dos temas abordados no debate, durante o qual Rui Bastos Ferreira, da Divisão de Planeamento e Reabilitação Urbana da Gaiurb, apresentou os eixos estruturantes e de articulação intermunicipal enquanto suportes à definição do modelo territorial e de ordenamento, que procuram cumprir os seguintes objetivos:
Satisfazer as deslocações de maior amplitude territorial no concelho; servir de interface entre a restante rede rodoviária municipal e a rede de altas prestações e outras estradas que integram a rede nacional; garantir articulação com a rede principal dos municípios vizinhos; definir a divisão do concelho em subsetores, onde se organizam os restantes níveis da rede; promover nos seus espaços-canal a circulação de diferentes modos de transporte; e estruturar através dos espaços-canal o sistema de corredores verdes de bioclimatização da infraestrutura de transportes.
A rede de Cidades e Vilas que Caminham, um projeto que já integra 30 autarquias portuguesas, designadamente a de Vila Nova de Gaia, e cuja missão é dinamizar uma plataforma de experiências e soluções de boas práticas, assentes em programas de mobilidade sustentável, como por exemplo pedonal, esteve representada no debate por Pedro Ribeiro da Silva, em representação de Paula Teles, presidente do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade e fundadora da rede portuguesa.
O orador afirmou que, “na acupuntura urbana e no tricôt completo das cidades, temos de perceber as estruturas que ligam as pessoas e temos de pensar as cidades para as crianças”.
Segundo Pedro Silva, importa inverter a dinâmica das cidades, designadamente no que concerne ao sedentarismo da população que é incutido desde a infância (com os pais a levar as crianças de carro à escola) e criar corredores para andar a pé e de bicicleta, espaços de vivência e de contemplação.